quarta-feira, 22 de abril de 2009

Clube Silêncio

Você pega um livro pra ler, se acomoda da forma mais confortável, prende o cabelo pra nenhuma mecha cair no rosto e pronto, vem alguém puxar assunto. Você mal olha pra pessoa, apenas responde rapidamente e começa a ler. Claro que nisso a pessoa quer continuar o papinho e você, com seu baixo poder de concentração, não consegue dar conta da leitura e da mala falante ao mesmo tempo. Você tava ali tentando seguir um raciocínio, tentando mergulhar no texto, já construindo na sua cabeça as idéias e aquele ser sem noção vem falar. Pior. Perguntar. Então além de entender o que a pessoa está falando, você tem que bolar uma resposta. Uma frase. Algo inteligível. Sujeito, verbo, predicado, adjunto. Você não consegue. Você tá lendo! Você apela pro "aham". A pessoa não satisfeita com o seu monossilabismo, pergunta, repergunta e re-repergunta como se fosse a missão da vida dela conseguir arrancar mais de um mero "aham" da sua boca. Peraí! Que mané "aham"? Nesse ponto, você já está balbuciando qualquer coisa, qualquer combinação aleatória de vogais, na tentativa de não falar um palavrão. Ih. Silêncio. A pessoa se calou. Silêncio! Que delícia. Deve ter se tocado de que você não estava nem aí pro que ela falava, né? E olha que nem precisou do palavrão. Aproveita e lê aí. Não, não se empolga. Ela voltou a falar. Só tinha dado um tempo. Provavelmente ela tava comendo ou foi ao banheiro ou sei lá, respirou. Afinal, desde que você pegou o livro que ela não sabe o que é respirar porque ela simplesmente não ca-la-a-bo-ca! Agora é você quem respira fundo. Você não queria ter que falar, mas mesmo assim, você vira e fala que tá lendo e que quer ficar quietinha. Indisponível para dialogar. Indisponível também pra ouvir monólogos. Indisponível e inalcançável. Seus olhos voltam às páginas do livro, a pessoa diz que te entende e pede desculpas por ter interrompido antes. Mas interrompe de novo. Foi só pra falar uma coisa rapidinha. E outra. E outra. E outra. Aí, meu irmão, você realiza que o seu poder de concentração é baixo, mas o seu poder de abstração é mais baixo ainda. É mini. É micro. É anão. Voce tava chegando ao ponto G do livro e tem que ir pro ponto F. F de "Foda-se". E nesse momento o silêncio se faz mais distante, pois você grita. Como se quisesse ser lembrado após tantos decibéis alcançados pelas suas exclamações, o silêncio volta imediatamente. Depois dizem que você é grosseiro, mas você a cada dia fica convicto de que há coisas que só se consegue à base do grito. Até mesmo o silêncio.

Você sou Eu. Mas é que eu queria que se colocassem no meu lugar e percebessem como é irritante tentar ler quando não se calam. Isso é um protesto, um pedido e acima de tudo, um GRITO: não tentem conversar comigo se eu estiver lendo!!!!! Grata a gerência.

7 comentários:

Anônimo disse...

Faz muito sentido... o mais legal é que na próxima leitura a mala vai surgir novamente.

Anônimo disse...

vai pra biblioteca

Anônimo disse...

vai pra biblioteca <2>

Expressivas Impressões disse...

Muito bacana o seu texto! Adoro o modo como você escreve. Mesmo sem te conhecer, como em um livro, praticamente te visualizo fazendo caras e bocas porque estão te "estorvando". É quase um "Irritando Fernanda Iang" hehehehe
Beijão e vê se aparece pelo Expressivas. Você é o tipo de leitora que faz falta.

Dani Morisson disse...

Amiga, você é foda! Com F bem grandão! Quanto mais eu lia, mas queria ler pra descobrir que fim levava o ser tagarelante. Ainda bem que não tinha nenhum tipinho desses pra me interromper.

T. disse...

O falatório mora ao lado. Ao meu lado e não mais ao seu.

Anônimo disse...

VAI PRA BIBLIOTECA! > 3,4,5 E 6